GASTRONOMIA

 

  • Cerveja, preferência mundial

    A bebida mais consumida no mundo, depois da água, segue o Homem desde os tempos mais remotos, estando presente em quase todos os seus momentos de festa e alegria

    Há os que preferem as morenas, por serem mais incorpadas. Outros gostam das ruivas, que tem uma personalidade mais forte. Mas, a maioria, não abre mão de uma loira, que sempre desce suave, acariciando a sua garganta e vai satisfazendo o seu espírito. Não importa a sua cor, nem os vários nomes pelos quais elas possam atender. Tanto faz se é uma italiana birra ou uma inglesa beer, o importante é que esteja sempre na temperatura ideal para o prazer de degustá-la. Estamos falando da cerveja. É bem verdade que ela não tem a nobreza do vinho e nem a sobriedade do uísque, mas é a preferida mundialmente, sendo a bebida mais consumida da atualidade.

    NA ANTIGÜIDADE

    Tudo indica que a história da cerveja começou oito mil anos antes de Cristo, lá com os sumérios, quando o Homem descobriu a fermentação do trigo para a realização do pão. A partir daí passou a trabalhar a fermentação dos grãos de vários cereais. No mundo antigo ela já estava presente entre os gregos e os romanos, que a conheceram pelos egípcios. O processo era simples: a fermentação da água do Nilo aliada aos grãos de trigo, inicialmente, sendo depois substituído pela cevada. Assim nascia o que na época chamaram de “o vinho de cevada”, pois já no tempo dos faraós ela disputava os copos gota a gota com vinho.

    Depois de bastante difundido no Egito, foi a vez da Grécia e de Roma se renderem aos prazeres da cerveja, ganhando todo o mundo Mediterrâneo. Conta a lenda que na Grécia chegaram a receitar um bom gole de cerveja como antídoto contra picada de escorpião. Não temos notícia se realmente a bebida curava, mas o certo é que o humor da vítima melhorava em muito. Já em Roma ela era a preferida do povo, pois o seu preço era muito mais acessível do que o vinho, como ocorre até os dias de hoje.

    NOS MOSTEIROS

    O passar dos séculos fez com que a cerveja se espalhasse por todo o resto da Europa, crescendo a legião de cervejeiros. Os mosteiros, que já eram responsáveis pela fabricação do vinho, tanto que foi em um deles que o champagne foi descoberto, também passaram a se responsabilizar pela produção das melhores cervejas. Um desses “centros de excelência cervejeira” foi a abadia beneditina de Saint-Gall, na Suíça. Conta-se que em todas as instituições eclesiásticas, tanto masculinas como femininas, cada religioso tinha uma cota diária de cerveja que poderia, em alguns casos, chegar até três litros per capita. É possível que esse também seja mais um dos muitos capítulos das histórias que cercam a bebida.

    Lendas à parte, é fato que foi em um mosteiro que na composição da cerveja passou-se a usar o lúpulo, para condimentá-la, dando esse suave sabor amargo que até hoje sentimos quando degustamos um copo. Vale lembrar que nos primórdios dessa bebida eram adicionados uma série de produtos como o mel, por exemplo, mas que de acordo com a quantidade a tornava um tanto enjoativa.

    LOUIS PASTEUR

    Uma descoberta científica, que data de meados do século XIX, mudou definitivamente a história da cerveja: a pasteurização. Esse método, descoberto pelo cientista francês Louis Pasteur, consiste no rápido aquecimento de um líquido e posterior resfriamento, esterilizando o produto. A pasteurização trouxe inúmeros benefícios para a cerveja, pois além de eliminar algumas impurezas, garante uma maior sobre vida, garantindo a sua conservação. Aliás, essa é a grande diferença entre o chope e a cerveja. O primeiro não é pasteurizado, tendo que ser consumido em poucos dias, pois ele se deteriora rapidamente.

    Graças a descoberta de Pauster e a sua larga utilização nas cervejarias, é hoje em dia podemos apreciar as mais variadas cervejas de todas as regiões do mundo. Desde as tradicionais alemãs, as fortes holandesas até as mexicanas que são, muitas delas, feitas com grãos de milho.

    NO BRASIL

    A cerveja chegou ao Brasil graças a Napoleão Bonaparte. Os delírios de grandeza do imperador francês, que invadiu os países vizinhos, fez com que a família real e a corte portuguesa, tendo Dom João VI a frente, aportasse no Brasil em 1808. Junto com a bagagem do rei português vieram alguns tonéis de cerveja, pois ele era um grande apreciador da bebida. Menos de cinqüenta anos depois, já produzíamos a nossa própria “loirinha” com as cristalinas águas de Petrópolis.

    De lá para cá, cada vez mais, a cerveja vem ganhando espaço no paladar brasileiro, sendo a bebida mais consumida do País. Atualmente não há como dissociá-la dos principais momentos da vida nacional. No futebol ela serve duplamente. Para comemorar se o seu time ganhou. E para consolar se ele perdeu. Nas férias, debaixo do tórrido verão, não há como sobreviver sem uma cervejinha, à beira da praia e debaixo de uma sombra. Depois do trabalho, junto com os amigos, ela é a companheira ideal. Seja loira, morena ou ruiva. E melhor, se você não exagerar, sua mulher não vai reclamar dessa feminina companhia.

    Texto publicado originalmente na revista Viva Gourmet.